Roma (NEV/Confronti.it), 29 de julho de 2020 â Quem jĂĄ teve contato com o mundo protestante italiano pelo menos jĂĄ ouviu falar do pastor valdense George Bouchard, desapareceu em Torre Pellice em 27 de julho. Desde os primeiros movimentos que anunciaram a convulsĂŁo polĂtica e cultural de 68, atĂ© os anos em que a chamada Primeira RepĂșblica desmoronou tristemente, Bouchard foi o protagonista e por vezes diretor da presença protestante no espaço pĂșblico italiano. FĂĄ-lo com sua cultura teolĂłgica nitidamente barthiana e com seu sentimento polĂtico formado nos duros anos da ocupação fascista, apurado por intensos estudos no difĂcil pĂłs-guerra e amadurecido no contexto das lutas operĂĄrias dos anos 60 e 70 . NĂŁo Ă© por acaso que, nessa conjuntura, encontrou-se como pĂĄroco em MilĂŁo com a tarefa de sustentar um projeto original de raĂzes em uma das ĂĄreas perifĂ©ricas e populares da cidade, Cinisello Balsamo: menos celebrada que a vizinha Sesto San Giovanni - depois "Stalingrado da ItĂĄlia" â mas com uma caracterização polĂtica anĂĄloga. Hoje definitivamente perdido em benefĂcio da Liga e da sua base social composta por nĂșmeros de IVA desenfreados e pensionistas que tĂȘm medo dos imigrantes. Naquele lugar e naquela Ă©poca do sĂ©culo passado, Giorgio, Toti Rochat e outros jovens protestantes fundaram uma "comuna" que logo acabou acolhendo tambĂ©m catĂłlicos e nĂŁo crentes. Para a cidade foi um projeto social ainda hoje lembrado, mas para Giorgio e aquele grupo de crentes foi uma forma de viver concretamente a sua fĂ© cristĂŁ e evangĂ©lica numa Ă©poca cultural que submeteu a duras crĂticas nĂŁo sĂł as convençÔes "burguesas" mas tambĂ©m os costumes e tradiçÔes religiosas.
Das salas barulhentas e lotadas da Comuna, Giorgio logo se viu ocupando cargos importantes em Roma e na Torre Pellice, capital do valdismo e Genebra da ItĂĄlia, segundo a generosa e retĂłrica definição de De Amicis. NĂŁo foi apenas uma mudança sociolĂłgica - do proletariado metropolitano para a classe mĂ©dia protestante - mas tambĂ©m de papel. A Igreja que o elegeu Moderador da Mesa Valdense em 1979 sabia que estava escolhendo uma personalidade forte â simpĂĄtica, mas Ă s vezes tambĂ©m rochosa â e com uma visĂŁo precisa do papel do protestantismo na sociedade italiana. Suas referĂȘncias eram o protestantismo mundial - mais tarde caracterizado por um interesse preciso pelos Estados Unidos -, as social-democracias europeias, Ă©ticas reformadas para serem repensadas sem perder o sentido primĂĄrio de "vocação" de Deus.
Um livro essencial dele, a esse respeito, permanece EspĂrito protestante e Ă©tica do socialismopublicado coincidentemente por Com Nuovi Tempi em 1991. Neste sentido, juntamente com outros - gostaria de mencionar os nomes de MĂĄrio Miegge E SĂ©rgio Aquilante com quem entre altos e baixos, consentimentos e dissensos, sempre houve um grande respeito intelectual e escuta mĂștua - desempenhou um papel preponderante na desprovincialização do protestantismo italiano.
Historiador por paixĂŁo, Giorgio evitou a retĂłrica da histĂłria das perseguiçÔes e contestou a tese do "excepcionalismo" valdense na histĂłria nacional. Pelo contrĂĄrio, juntamente com Giorgio Spini, confiou-nos a tese do papel ativo da componente valdense na histĂłria europeia e nacional, desde a Primeira Reforma Ă s perseguiçÔes do sĂ©culo XVIII, do Risorgimento Ă ResistĂȘncia, da oposição Ă centrismo "democrata-cristĂŁo" Ă s lutas civis dos anos 70. A transição para a categoria interpretativa do protestantismo como "componente" e nĂŁo mais como "minoria" - inspirada na ideia gramsciana segundo a qual a hegemonia cultural nĂŁo coincide com a maioria numĂ©rica - foi essencial para liderar a batalha pelas Ententes, como conhecido, aprovado em 1984, em plena era Crax. Naquela conjuntura, sua Igreja nĂŁo estava unida e, ao contrĂĄrio, ocorreu uma dolorosa divisĂŁo destinada a se repetir em 1993 e em 2001, quando o SĂnodo das igrejas metodista e valdense decidiu acessar o sistema de distribuição de oito por mil e, posteriormente, , Ă distribuição de quotas nĂŁo expressas.
Bouchard, convencido de que o objetivo do primeiro acordo nos termos do art. 8Âș da Constituição merecesse alguma mediação e atĂ© algum compromisso, sentiu o peso liderança que lhe foi confiado e o interpretou com coerĂȘncia, mesmo Ă custa de fraturas na Igreja. Na ocasiĂŁo, ele tambĂ©m renunciou Ă s crĂticas, certamente ingĂȘnuas e Ă s vezes exageradas, daqueles valdenses - entre eles muitos jovens na Ă©poca - que viam no acordo uma vulnus ao separatismo secular entre o Estado e as confissĂ”es religiosas e rejeitou o prĂłprio instrumento jurĂdico por ter sido concebido como uma reparação pela renovação da Concordata. DĂ©cadas depois, nĂŁo tenho dĂșvidas de que Bouchard estava certo e errados seus crĂticos que, como eu, nĂŁo entenderam a natureza excepcional daquela transição polĂtica.
Bouchard tambĂ©m foi tecelĂŁo da unidade do evangelicalismo italiano: ferrenho defensor da integração entre valdenses e metodistas, foi um dos promotores da Federação das Igrejas EvangĂ©licas (Fcei) da qual, entre 1988 e 1994, foi presidente. Nesse cargo fortaleceu sua ideia de uma âfrente protestanteâ que, ao agregar a complicada diĂĄspora evangĂ©lica, pudesse promover uma alternativa evangĂ©lica na ItĂĄlia. Um projeto excessivamente ambicioso, talvez irreal, dado o fosso que se cavava entre o protestantismo histĂłrico e a galĂĄxia, especialmente em questĂ”es Ă©ticas evangĂ©lico. Mas foi um projeto estratĂ©gico, uma ideia orientadora lançada com paixĂŁo e coragem na tentativa de indicar um caminho para que a componente protestante da sociedade italiana tivesse um papel pĂșblico e significativo.
Um protestante versåtil e valdense, Bouchard também era um homem de diålogo, e o nascimento desta revista é em grande parte devido a ele. Comparardo qual foi um grande apoiador quando o cabeçalho se abriu ao mundo das fés e do intercùmbio intercultural e inter-religioso.
Bouchard foi um homem do sĂ©culo XX, um sĂ©culo muito longo, marcado pelo peso de pesadas e condicionantes ideologias, mas tambĂ©m enriquecido por visĂ”es de longo prazo que hoje nos faltam. Para muitos de nĂłs foi tambĂ©m mestre de vida, de pensamento e de fĂ©. E, como deve ter adivinhado ao escrever seu Ășltimo livro confiado Ă redação de sua esposa Piera Egidi (Mestres. Encontros significativos na vida de Giorgio BouchardNuova Trauben 2020), o melhor professor Ă© aquele que deixa seus alunos seguirem seu prĂłprio caminho, mesmo sabendo que eles nĂŁo poderĂŁo refazer aquele que ele percorreu e indicou.
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