Detalhe da capa do livro "Os pentecostais na ItĂĄlia. Leituras, perspectivas, experiĂȘncias", editado por Carmine Napolitano para as ediçÔes Claudiana -
Roma (NEV), 6 de março de 2023 â Terceiro episĂłdio do Especial liberdade religiosa da AgĂȘncia NEV, para retomar os temas da conferĂȘncia "Pluralismo religioso, fundamentalismos, democraciasâ realizada recentemente em Roma. A conferĂȘncia foi promovida pela Fundação Lelio e Lisli Basso, o Centro de Estudos e RevisĂŁo Confronti, a Biblioteca Legal Central, a revista Questione Giustizia e a Federação das Igrejas Protestantes da ItĂĄlia (FCEI).
Após as primeiras entrevistas, um Paulo Naso estå em Ilaria Valenzié a vez do presidente Federação das Igrejas Pentecostais (FCP), påroco carmim napolitano.
Na conferĂȘncia "Pluralismo religioso, fundamentalismos, democraciasâ, realizada recentemente em Roma, falou-se da liberdade religiosa como questĂŁo cultural. O que vocĂȘ acha?
Acredito que a liberdade religiosa na ItĂĄlia sempre foi principalmente uma questĂŁo cultural. Em nosso paĂs, Ă© muito difĂcil imaginar formas de cultura e prĂĄtica religiosa diferentes da maioria e mesmo quando isso Ă© reconhecido, a confissĂŁo religiosa majoritĂĄria Ă© considerada como parĂąmetro de avaliação jurĂdica inclusive das demais confissĂ”es religiosas. A conferĂȘncia destacou como Ă© complicado, em todos os nĂveis, chamar a atenção polĂtica e cultural para o pluralismo religioso que jĂĄ constitui um fato vivenciado diariamente em diferentes contextos, como escolas; e isso favorece um sĂ©rio atraso tambĂ©m na aplicação da legislação ligada ao direito Ă liberdade religiosa, apesar das amplas e claras disposiçÔes constitucionais.
Os meios de comunicação de massa e as academias correm o risco de retratar os fenÎmenos religiosos de maneira superficial ou abstrata ou, em todo caso, distante da realidade? Por que, na sua opinião?
Exatamente pelos motivos citados. A defasagem cultural na compreensĂŁo e legitimação da diversidade religiosa produz desinteresse e estrabismo na leitura do pluralismo religioso. VocĂȘ acha que em um artigo cientĂfico de um ano atrĂĄs em uma renomada revista jurĂdica eu li que Lutero era um heresiarca! E em um manual de histĂłria moderna ler que o princĂpio da cuius regio eius et religio sancionado com a paz de Augusta em 1555 deve ser considerado o primeiro ato jurĂdico de liberdade religiosa na Europa moderna. Se essas mensagens sĂŁo transmitidas nas universidades onde se formam as classes dominantes, o que queremos esperar que digam os alunos que ouviram essas coisas quando se tornarem operadores dos meios de comunicação de massa ou divulgadores cientĂficos e culturais? Em suma, muitas vezes falta uma abordagem sĂ©ria e qualificada para a leitura do pluralismo religioso e acabamos falando dele por boatos, por slogans e usando terminologia ultrapassada e ofensiva.
Quantas comunidades a Federação das Igrejas Pentecostais representa?
Atualmente existem mais de 400 comunidades locais ligadas Ă Federação por diversos motivos; muitos deles fazem parte de redes nacionais e algumas dessas redes tambĂ©m tĂȘm reconhecimento legal. Mas a Federação representa apenas uma parte do mundo pentecostal na ItĂĄlia, que Ă© muito mais amplo e estima-se que cerca de 500.000 pessoas adiram a ela, se levarmos em conta tambĂ©m as comunidades formadas por imigrantes.
Que tipo de dificuldades as Igrejas pentecostais encontram para professar sua fĂ©, do ponto de vista jurĂdico e prĂĄtico?
Na ItĂĄlia sempre houve um 'caso pentecostal' quando se tratava de medir a profundidade ou o progresso da liberdade religiosa. Os pentecostais foram uma 'chance' quando tiveram que enfrentar o regime fascista em uma luta desigual e solitĂĄria; foram quando, depois da guerra, tiveram que sofrer a discriminação dos primeiros governos republicanos, fornecendo muito material para a batalha relativa Ă liberdade religiosa que naqueles anos era travada nos meios de comunicação, nos tribunais e no Parlamento; sĂŁo hoje porque nĂŁo conseguem ver reconhecida a sua pluralidade e diversidade. Em suma, Ă© difĂcil compreender a sua articulação mĂșltipla Se considerarmos a vastidĂŁo do movimento, a sua difusĂŁo pelo mundo e a pluralidade de experiĂȘncias eclesiais anteriores que nele convergiram dada a sua transversalidade como movimento de despertar, compreendemos que configura-se como um mundo variado de grupos, organizaçÔes e sujeitos eclesiais que deram vida a um denominacionalismo pentecostal especĂfico; neste mundo existem referĂȘncias culturais e teolĂłgicas homogĂȘneas, mas tambĂ©m posiçÔes Ă s vezes marcadamente diferentes umas das outras. E tudo isso nĂŁo Ă© superado pelo fato de algumas organizaçÔes pentecostais tambĂ©m terem conquistado reconhecimentos jurĂdicos de outros perfis; porque hĂĄ muitos mais esperando.
O que vocĂȘ sugeriria Ă polĂtica para ampliar o horizonte da liberdade religiosa na ItĂĄlia, especialmente diante do que Paolo Naso chama de âpolĂticoâ dos âtempos que nĂŁo estĂŁo madurosâ e das âoutras prioridadesâ?
Concordo plenamente com a anĂĄlise de Paolo Naso; a polĂtica estĂĄ terrivelmente atrasada em relação aos desafios e exigĂȘncias do pluralismo religioso neste paĂs, tanto em termos quantitativos (jĂĄ somos 10% da população que professa uma fĂ© religiosa diferente da maioria) como em termos de qualidade, dado o recente a pesquisa realizada por Naso juntamente com outros na Lombardia sobre a relação entre imigração e locais de culto leva a considerar as comunidades religiosas como capital social. Mas o despreparo da polĂtica diante dessas mudanças Ă© desarmante; Ă© urgente lançar mĂŁo de uma lei de liberdade religiosa que seja capaz de implementar adequadamente os princĂpios constitucionais sobre a matĂ©ria. Por mais de trinta anos, porĂ©m, esse desejo nĂŁo foi realizado. Acredito que para criar uma norma devemos nos referir a um princĂpio e para ter um princĂpio devemos nos referir a um valor; em outras palavras: uma lei sobre liberdade religiosa exige a crença no direito Ă liberdade religiosa e esse direito deve ser fundamentado na concepção da liberdade como um valor. Em suma, a liberdade religiosa sĂł pode ser verdadeiramente concebida e realizada numa sociedade e numa cultura que saibam desenvolver uma religiĂŁo de liberdade.
Consulte todos os insights do Especial liberdade religiosa.
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