Morte na solidão. E a nova vida que nos espera
Roma (NEV), 7 de abril de 2020 – Na última conferência de imprensa do primeiro-ministro Giuseppe Conte, ontem à noite, ao vivo, o primeiro-ministro, depois de anunciar a dotação de 400 bilhões para as empresas, mencionou repetidamente a Páscoa “como uma celebração religiosa, mas também um secular”. Pedimos ao pároco Luca Barattoeditor da coluna Evangelical Worship e secretário executivo da Federação das Igrejas Evangélicas da Itália (FCEI), um parecer e uma visão sobre o significado das festividades nos próximos dias.
Você também acha que é uma festa que envolve todos os cidadãos, independente de religião? Por que?
“A Páscoa é um feriado claramente religioso. Há a Páscoa, a pesach, que se celebra de amanhã, quarta-feira, 8 de abril, a 16 de abril, e está ligada à narrativa da libertação do povo judeu. Depois há a cristã, ligada à morte e ressurreição de Jesus, que se celebra no Ocidente a 12 de abril e no Oriente a 19 de abril. A mensagem pascal é a primeira mensagem cristã, é o elemento fundamental do cristianismo. É possível que esta narração tenha elementos significativos mesmo para quem não acredita ou acredita no contrário, mas não se pode dizer que se trate de uma celebração secular.
“A Páscoa – continuou o primeiro-ministro – significa, como bem sabem os cristãos, a passagem, e também a redenção, da escravidão no Egito”. Qual é o significado da Páscoa, teologicamente falando?
A Páscoa cristã tem como centro a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Uma história intimamente ligada à judaica. Há dois momentos: a morte, ou seja, a destruição, a cruz, por um lado, e a vida, precisamente a Páscoa, a vida que ressuscita. A mensagem é esta, portanto, uma mensagem de vida que passa pela morte de Jesus.A passagem à vida pela morte é o cerne do sentido da Páscoa cristã.
Conte novamente, ontem à noite: “Na consciência, que uma passagem do pecado para a redenção, através do sacrifício de Cristo”. O que o sacrifício de Jesus representa para os protestantes?
Na Bíblia a morte de Jesus tem um espaço muito grande, porque foi a coisa mais difícil de explicar. É difícil explicar que o Messias é um “perdedor”, como “o Justo” pode ser derrotado. A imagem do sacrifício se impôs, no mundo cristão, a respeito disso, para o qual a morte de Cristo é uma espécie de oferenda a Deus, que perdoa. Uma interpretação que considero rígida, que não faz jus à diversidade de linguagens que a Bíblia nos oferece: vão desde a linguagem da redenção, da libertação do escravo, até a morte do profeta que permanece fiel. Existem várias imagens que devem ser consideradas.
Na teologia protestante, a imagem da cruz é fundamental porque nela, como disse Martinho Luteroisto mostra espécies subcontrárias, isto é, segundo uma modalidade que não é sua, a de ser julgado pelo mundo. Jesus que morre como um criminoso, que está entre os criminosos, como quem errou na vida, que não tem poder. E aqui Deus se mostra de maneira inesperada, segundo a teologia protestante, em contraste com a teologia da glória, a teologia da cruz.
A ressurreição é na verdade uma inversão da história, porque se na crucificação o mundo julga Jesus, na ressurreição é Deus quem julga o mundo. Traz à vida o mundo inteiro e todas as palavras que Jesus incorporou. A ressurreição não é um final feliz, é o julgamento de Deus sobre o mundo, que julgou e condenou Jesus.De perdedor para o mundo, Jesus se torna o justo, e então até a palavra ‘perdedor’ ganha um novo significado. Reflitamos sobre quem muitas vezes é classificado assim, sobre quem são os ‘perdedores’: por que Jesus morre como os excluídos e nos pede para olhar para eles como Deus os olha.
O que deseja, que mensagem gostaria de deixar aos crentes – e também aos ateus – face ao próximo feriado da Páscoa, a passar em casa, na sequência das restrições impostas para conter a propagação do Covid19?
Não sou religioso, mas sou um pregador que lida com o texto bíblico. Na narração bíblica da morte e ressurreição de Jesus há alguns elementos de atualidade dramática: a morte na solidão, uma das coisas mais trágicas que vivemos nestes dias. Talvez a Páscoa nos traga essa reflexão, é uma forma de estar perto, de de alguma forma fazer o luto pelas pessoas que se foram. Jesus foi sozinho, mas não estava sozinho.
Finalmente, a Páscoa é o dia em que a vida se afirma. Em dois sentidos. A primeira é que a fé cristã nos diz que sempre há algo novo para esperar. A segunda é que a vitória da vida, enfim, não é um simples retorno à vida, mas fazê-lo de forma consciente. Assim também nós, quando, esperemos que em breve, voltemos à nossa vida “normal”, o mais normal possível, teremos talvez de procurar uma vida melhor, mais equitativa, na qual as injustiças, talvez até as razões daquilo que estamos a viver, sejam enfrentou”.
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