Despedida de Don Aldo, um dos “pais” da Charta Oecumenica

Despedida de Don Aldo, um dos “pais” da Charta Oecumenica

Neste ano de 2021 comemoramos vinte anos de Charta Oecumenica, o pequeno documento que estabelece as diretrizes para o crescimento da colaboração entre as igrejas na Europa. A Best-seller movimento ecumênico que em grande parte ainda é atual, mas que há poucos dias perdeu um de seus “pais” – enquanto muitos de nós que estamos envolvidos no movimento ecumênico perdemos um amigo e um irmão. Refiro-me a Monsenhor Aldo Giordano, arcebispo católico e representante da Santa Sé junto à União Europeia, falecido de Covid-19 em 2 de dezembro em Bruxelas.

A morte de Dom Aldo é uma perda séria para aqueles que se preocupam com o destino do ecumenismo na Europa. Giordano havia retornado recentemente ao velho continente, depois de oito anos como núncio apostólico na Venezuela. Antes disso tinha sido observador da Santa Sé no Conselho da Europa, em Estrasburgo, mas sobretudo, durante treze anos (1995-2007), secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (Ccee), organismo católico que, juntamente com a Conferência das Igrejas Europeias (CEC, que reúne protestantes, anglicanos e ortodoxos), promoveu as três grandes Assembleias Ecuménicas Europeias: a de Basileia (Suíça) em 1989, a de Graz (Áustria) em 1997 e a de Sibiu ( Romênia) de 2007.

Giordano esteve diretamente envolvido na organização dos dois últimos, e um dos frutos desse trabalho estava ali Charta Oecumenicaassinado em Estrasburgo na Páscoa de 2001. Não só participou na redacção do Fretamento, mas foi um de seus mais ferrenhos apoiadores, apresentando-o e promovendo-o incansavelmente em dezenas e dezenas de encontros em todos os países europeus, inclusive na Itália. Dom Aldo gostava de dizer que o Charta Oecumenica não é apenas um documento, mas um processo e uma sonhar. E quero recordá-lo com estas suas palavras, escritas dois anos depois do encontro ecuménico de Estrasburgo: «Um metropolita ortodoxo que sai da igreja Saint-Thomas de Estrasburgo depois de assinar o Charta Oecumenica ele disse-me: “O céu nublado destes dias abriu-se para um vislumbre de azul sobre nós: é um sinal de que Deus abençoa o que conseguimos!”. Viajando pelas estradas da Europa, muitas vezes temos a impressão de que o céu está fechado ou que falta ar fresco para respirar. Lá Charta Oecumenica é um texto, um processo, mas também um sonho: ajudar a reabrir o céu azul sobre a Europa e suas igrejas… ajudar os cristãos de nossos países a redescobrir sua vocação e responsabilidade pela reconciliação».

Aqui está: A Covid-19 infelizmente acabou com a vida terrena de Dom Aldo, mas não conseguiu desfazer o seu sonho, porque é também o nosso sonho, o de todas e todos aqueles que, para citar as palavras conclusivas do Fretamento, acreditam firmemente que «Jesus Cristo, Senhor da “única” Igreja, é a nossa maior esperança de reconciliação e paz. Em seu nome queremos continuar nossa caminhada juntos”.

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A dignidade de morrer em tempos de coronavírus

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Roma (NEV), 27 de março de 2020 - Um protocolo que mantém "juntos os motivos de saúde e os dos entes queridos" e permite que muitas pessoas que vão sozinhas aos hospitais, sem o conforto de seus entes queridos, morram com dignidade. É o que pede um grupo de reflexão de teólogos evangélicos e católicos numa “Carta sobre a dignidade de morrer em tempo de coronavírus” dirigida “aos cidadãos, com particular referência às autoridades competentes”. Segundo os signatários, “ninguém merece morrer sozinho, nem mesmo numa situação como a atual, sob a chantagem do sacrifício pelo bem de seus entes queridos”. Por isso “tal como os profissionais de saúde, com a devida prudência, podem abordar os moribundos”, assim deveria ser possível elaborar um protocolo que preveja “a presença de um familiar”. Abaixo, a íntegra da carta aberta: “A morte entrou em nossas casas. Todos os dias recebemos com consternação os números de mortes pelo vírus. Assistir ao telefone, ler e ouvir as notícias tornou-se um boletim de guerra. Números desproporcionais. Por trás do anonimato dos números existem rostos, nomes, histórias, pessoas que cruzaram nossas vidas: nossos pais, parentes, amigos, colegas e conhecidos. Muitos deles viveram a tragédia de morrer sozinhos, sem o amor de seus entes queridos. Pode acontecer conosco também. O vírus ataca indistintamente. Também pode acontecer de nos encontrarmos no hospital, sozinhos, sem a presença de um familiar. A gente pensa na própria morte com medo, mas agora a ideia de ter que enfrentá-la na solidão, sem a possibilidade de se despedir dos entes queridos, parece ainda mais terrível. Sabemos que a unidade de terapia intensiva sempre foi um local proibido para visitas; e que em tempos de epidemia, os cuidados tornam-se ainda mais rigorosos. No entanto, no debate democrático que não deve falhar mesmo nesses momentos de emergência, gostaríamos de chamar a atenção para a perda do caráter humanizador do morrer, sem o qual o moribundo fica na solidão afetiva. Quem morre sozinho não tem a possibilidade de fazer ouvir a sua voz, os seus últimos desejos. No máximo, ele pode entregá-los ao pessoal médico. Uma medida de humanidade em uma sociedade civil é dada protegendo os mais fracos, dando voz aos que não têm voz. Acreditamos que também este tem o caráter emergencial que move as decisões dos dias de hoje. Pedimos, portanto, que este aspecto seja seriamente questionado e que se tente formular um protocolo que combine as razões de saúde com as de sofrimento. Será mesmo impensável pensar que um ente querido, no pleno cumprimento das normas sanitárias, possa estar presente para acompanhar um familiar no delicado momento da transição da vida para a morte? Pode-se, com dificuldade, aceitar a solidão do enterro: passada a emergência, pode haver gestos públicos de luto. Mas para aqueles que morrem, os tempos não podem ser adiados: há apenas um momento. Ninguém merece morrer sozinho, nem mesmo numa situação como a atual, sob a chantagem do sacrifício pelo bem de seus entes queridos. Assim como o pessoal de saúde, com a devida cautela, pode abordar o moribundo, também, a nosso ver, é preciso pensar em prever a presença de um familiar. Apelamos, portanto, à inteligência alerta e criativa daqueles que se preocupam em promover a dignidade de viver e morrer para todos. Na emergência, junto com a excelência sanitária e a governança política da situação, destacamos também uma clara atenção ao perfil humano das vítimas da epidemia“. Os signatários: Lídia Maggi; Paolo Squizzato; André Grillo; Fábio Corazzina; Cristina Arquidiácona; Abril Máximo; Paulo Curtaz; Carlo Molari; Gianni Marmorini; Silvia Giacomoni; Marco Campedelli; Ângelo Reginato. ...

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